Até o final da crônica você entenderá que eu realmente sou um idiota, e talvez concorde e me envie uma resposta dizendo: você é mesmo um idiota.
Quando era mais novo, na época de fazer escolhas como vestibular, corte de cabelo, estilo de roupa, eu achava que sabia fazer as escolhas certas. Era para escolher um curso e entrar na faculdade. Pensei, quero ser artista. Não se estuda arte em faculdade. E as pessoas que o fazem são estranhas.
Apaixonei pela literatura, queria ser professor de cursinho, ler livros e ser escritor. Na verdade, só escritor. Professor não precisa. Não sou chegado à escola. E olha que sou professor, e de português – pra piorar.
Meus amigos escolhiam cursos pensando na profissão, no que fariam depois da faculdade. Eu pensava na faculdade, no curso, no que leria. Engraçado, não? Eu gostava de sentar e ler. Aprendi isso com o Ziraldo, é melhor a pessoa gostar de ler do que de estudar.
Só que o burro aqui não absorve como querem. E isso traz problemas. Veja bem, na faculdade eu não apenas estudava, queria aprender, sugar tudo. E não me dedicava a passar de ano, fazer provas com as respostas que os professores esperavam.
Essas idiotices não tolero. Sempre vou pelo caminho mais longo, acreditando estar no atalho. Tenho admiração pelos virtuoses, pessoas dedicadas, decididas. Sinto orgulho ao ver pessoas tão dedicadas que chegam próximo da perfeição. Acredito que é possível ser bom. Praticando constantemente. Trocando a vida pelo ideal.
E agora me pergunta: você faz isso?
Condição eu tenho. Será que é medo de descobrir que meu limite é pequeno? Tenho medo disso, ter o limite pequeno. Não pense que depois de terminar vou pro bar ver até qual ponto eu chego. Não falo desses limites, como também não penso em me jogar de um avião, sobre tudo, a uma velocidade exorbitante, para saber se eu consigo invocar meus pensamentos e fazer muita força e conseguir voar.
Dá vontade.
Limite para criação. Esse é o medo de todo artista. Limite para perfeição. Medo de todo atleta.
Eu me criei entre o esporte e a arte. Entre o limite e a falta dele. Eu não consigo ser virtuose, não nasci para ser bom como um virtuose. Ou qualquer um pode ser um virtuose? Falta de incentivo não foi, falta de apoio não foi. Eu sou mesmo um idiota.
Sou fascinado por figuras que chegam à perfeição. Alguns conseguem, isso é certo. Nós não gostamos de assumir, mas algumas pessoas são tão boas que passamos a não gostar delas. Invejamos, tentamos derrubá-las. Só falamos bem depois da morte.
Gasto muito tempo com besteiras, e geralmente me pergunto: por que estou fazendo isso? Poderia estar lendo, escrevendo, estudando, pedalando, correndo, brincando com a Lara. Mas não, estou gastando tempo com besteira, igual a um idiota.
Meu consolo é que eu posso ouvir músicas lindas, ler bons livros, passear por lugares desconhecidos.
Pelo menos eu sei ler. Graças à minha professora de português que eu achava muito chata. E hoje sou eu o chato, professor de português – a matéria que ninguém gosta. Eu sou mesmo um idiota.
6 comentários:
é isso...
Inspiração
"Um salve à - Ney Matogrosso e Pedro Luis e a Parede"
Arranca o couro cabeludo
Arranca caspa, arranca tudo
Deixa entrar sol nesse porão
EM QUALQUER DIA POR ACASO
DESFAZ-SE O NÓ, ROMPE-SE O VASO
E SURGE A LUZ DA INSPIRAÇÃO
DEIXA SEUS ANJOS E DEMÔNIOS
TUDO ESTÁ MESMO NOS NEURÔNIOS
NUM JEITO INTERNO DE PRESSÃO
O que se conta e se aproveita
É se a linguagem já vem feita
Com sua chave e seu chavão
A porta se abre é de repente
Como se no ermo do presente
Se ouvisse a voz da multidão
E o que tem força, o que acontece
É como um dia que estivesse
Sem calendário ou previsão
Fica à espera, de tocaia
Talvez um dia a casa caia
E fique tudo ao rés-do-chão
Fica a fumaça no cachimbo
Fica a semente no limão
Fica o poema no seu limbo
E na palavra um palavrão...
E além disso, um dos passos mais importantes, é admitir que é mesmo um idiota.
Somos dois idiotas!
Como eu digo por ai ..fiz de cada escolha errada, uma escolha certa! E tbm cai na redoma de nao querer ser professora, pq nao queria dar aulas pros filhos dos amigos, acabo por nao dar aula pra filhos dos amigos, mas ficar amiga dos pais dos alunos..
;)
Você é o idiota do dostoievski.
Bem melhor que ser o idiota do cotidiano.
E, respondendo a uma de suas indagações, acho que quase todo mundo pode se tornar virtuose sim.
Não diria todo mundo... algumas pessoas tem dificuldades sérias cognitivas, mas, a maioria das pessoas pode ser excepcional.
Como diria a propaganda de um comercial:
"Sede é tudo"
ou, a de um outro:
"Rala que rola"
Eu, essa música eu adoro.
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Luci, que sorte a sua, viu...
beijos e volte sempre.
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Hotel, vou ralar pra ver se rola...
abraço
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Turma da bagunça: A Mina do Cara te ama!
Não, você não é um idiota; embora repita tanto isso que irá acabar atingindo uma perfeição indesejada.
:)
Por outro lado, nos diga: o que é que você tem que se orgulhe? Isso também tem valor para nós, mas, principalmente, para você!
No mais, e você sabe disso, todos somos um pouco demasiado vacilões.
Abraços.
Idiota não. Você quer alguma outra coisa da vida, mais profunda, o caminho mais longo, quem disse que ia ser fácil? Bobo.
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