1 de fev. de 2012
O fantástico mundo de Romárcio - o cara que tinha futuro
Tinha tudo para ser um fenômeno. Só faltou uma coisa: humildade. E talvez seu maior defeito seja acreditar demais nas pessoas. Acredita em tudo que dizem para ele. Por isso ainda tem futuro – é o que lhe resta.
Era a promessa da família para o ser o novo Pelé. Aos seis anos, depois de insistência do pai em levá-lo para os treinos, aposentou as chuteiras. Não queria treinar, pois “é o melhor da equipe, o técnico é que não enxerga direito”.
Passou a jogar pelada na rua e no clube, mas não treinava. Arrebentava nos campeonatinhos da rua e sempre ouvia de seu pai, “ele é o melhor que já vi jogar, só não gosta de treinar, uma pena – mas ainda levo-o para um time grande.”
Alguns amigos fizeram teste em times e passaram. Romárcio não, ele não queria fazer teste. Não preciso de teste, dizia aos amigos.
Já adolescente raramente jogava um campeonato de várzea. Deixara o futebol. Já havia feito gol de todas as formas possíveis. Passou a beber cerveja e fumar cigarro nas festas – muito frequentes.
Como um bom garoto, Romárcio estudou – jamais lera um livro durante sua vida – e ingressou na universidade. Era festa todos os dias. Morava na República dos Cara! Eles tinham hino e tudo. Era mais ou menos assim: Aqui, na República dos Caras, não entra mina acompanhada, só se for as mina dos Cara!
E durante uma festa de faculdade, já bêbado e só de bermuda, disse: era pra eu estar na final dessa merda de campeonato; jogo muito mais que qualquer um aí. A metade da turma riu. A outra metade nem ouviu, pois além do som alto, em final de campeonato ninguém fica quieto – ainda mais com a torcida divida. Essa foi a maior prova de amizade de Romárcio e sua turma – assistirem à final do Brasileirão juntos, bêbados, e era para todos comemorarem, vencedores e perdedores.
Durante o jogo Romárcio repetia sempre, era pra ser eu esse cara aí. Alguns riam – os que ouviam, claro. Um a zero contra, faltando dois minutos para terminar e o juiz apita um pênalti para o time de Romárcio. Aquele silêncio na casa, apreensão, e Romárcio diz, segundos antes do batedor correr para a bola: eu bateria no meio, uma porrada.
O goleiro pegou a bola no canto esquerdo e, como disse na entrevista depois do jogo: “quando entrei em campo, orei e falei, é hoje que eu se consagro.” Romárcio ficou indignado. Disse novamente aos amigos: era pra ser eu aquele batedor de merda! Dessa vez ninguém falou nada.
Romárcio formou na universidade não se sabe em quê. Leva uma vida dizendo: era pra ser eu aquele cara ali.
Engravidou uma colega de trabalho e casará no próximo final de semana. A única vez que ninguém riu dele foi quando disse, passando em frente a uma igreja: não era pra ser eu aquele cara ali, eu tenho futuro, aliás, é só o futuro que me resta.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
7 comentários:
Conheço alguns assim.
Lembrou-se o velho Schopenhauer que dizia que com o tempo o futuro diminuia e o passado aumentava. abraço
todo mundo tem um pouco dele...
Sandro, sempre tem um desses, né...
abraço
__
Thiago, que isso hein, invocando o filósofo e tudo...
abraço
__
Maggie, o pior é que temos mesmo...
beijo
___
E você, vai dar o ar da sua graça aqui?
A Mina do Cara te ama!
Ê, Romarcio... e quem nunca foi você em algum período da vida??
Velho, teu blog é um palavrão!
Amiga,vc com sua irreverência, su jeito de falar das coisas faz toda diferença. bjs
Postar um comentário