19 de jul. de 2011

Carta à Badi Assad


Badi, sair de um show seu e não querer criar é coisa para malucos. Nem que a pessoa crie uma melodia; uma melodia que ela tem na cabeça. Qualquer coisa. Uma carta, um pensamento, uma poesia, uma música. Alguns produzirão críticas, outros, uma carta. Os críticos nada têm a dizer de mal, aposto. Se já houve na imprensa uma crítica negativa, essa mídia era de mau gosto.

Antes do show começar eu já estava na expectativa de vê-la dedilhar o violão com precisão, força, garra. Estava louco para ouvir as músicas que conheço. E para minha surpresa, iniciou o show com música que desconheço. Tocando a música e conversando com o público.

Badi Assad, você tem qualidade e capacidade de sobra para ser artista top de gravadora, daquelas que regravam sucessos e vendem milhões. Mas não, toca música – e não comercial – e vende seus CDs depois do show. Quando eu cheguei tinha uma sacola de compras vazia. O mesmo estilo underground dos punks. (Tá, mas não confunda as coisas, viu?) Optou por ser artista, já que é de uma família de músicos. Ou é artista e pronto? Na minha opinião, a voz mais linda do Brasil.

E a Elis? A Elis não conta. Sabe o que aprendi com artistas que são ótimos em suas artes e não fazem questão de estarem na mídia? Eu aprendi, acima de tudo, que a linguagem para agradar e desagradar ali na telinha pode não ser verdadeira, pode não ser a voz do artista; ou ali está a verdadeira voz. Suas músicas não são como as que estão por aí. (Outro parêntese. Eu não estou falando de cantores ícones que circulam pelas mídias e grandes eventos. Estou falando de artistas de verdade.)

Eu sou da literatura. Você é da música. Você é música. Você canta e encanta. Deixa nossos ouvidos purificados. Quando fui pela primeira vez a um show seu, foi em Foz do Iguaçu, fiquei encantado. Comprei o Wonderland autografado, conversamos um pouco e tiramos uma foto. Nesse show eu fiquei entre meus dois professores de violão, um de cada época, dois “rivais”. O show de hoje foi diferente, foi na praça, eu estava com a namorada, uma amiga dela que também adora arte. Elas ficaram boquiabertas. Todos nós ficamos boquiabertos.

Hoje eu aprendi uma lição com você: ser virtuose não é ser firula, não é fazer firula; é saber fazer, saber fazer bem feito, saber fazer bonito, e o principal para o artista, saber fazer a plateia aplaudir.

Já sei que no último dia do mês terá show aqui, desta vez com a família. Com certeza estarei lá, sentado (desta vez com a filmadora), com a nega do lado e de blusinha branca. É vendo artistas como você que dá vontade de tentar a vida com a arte. Ouvindo as pessoas certas, lendo os livros certos.

Olha, como eterno insatisfeito, e depois de tanto elogio, eu tenho que reclamar de uma coisa. Faltou a música que eu mais gosto, tanto no show quanto no DVD: “o que seria”. Pô, eu sei que é injustiça dizer que faltou algo, mas faltou essa música. Na minha opinião é uma música completa, com letra e música combinando na força, na precisão das palavras; e com essa voz... Talvez a música que mais gostei nos últimos anos. “Com dentes que mascam desejos de alforria...”

Badi, quando terminou o show, a amiga fala: o povo tinha que ouvir isso, e não essas merdas de sertanejo. Respondi a ela: não, isso realmente não é para o povo. E infelizmente a arte não é para as maiorias; nunca foi. Acabou que eu nem pude falar a ela sobre minha teoria sobre a diferença entre arte e entretenimento; e também não consegui dizer a ela sobre minha segunda teoria, essa sobre letras de música autoajuda que conquistaram a mídia.

Quando saí do show de Foz fiz uma letra. Hoje, uma carta. Quero ver se no próximo show, no final do mês, eu crio coragem e apresento a você uma letra que fiz.

Que venha o próximo show! Até lá.


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Com vocês, O que seria?, de Badi Assad...




Se não der para ouvir, clique aqui e ouça...

7 comentários:

Hotel Crônica disse...

Como diria a badi:

"Normal só tem você e eu..."

Badi é inspiração pura mesmo...

Hotel Crônica,

Uma empresa afiliada à coorporação Certa Palavra

Luna Sanchez disse...

Que bom ler alguém falando sobre outro alguém com tanta admiração, guri...Gostei muito de saber como ela te inspira.

=)

Um beijo.

Vanessa disse...

Não criar é coisa para malucos...
Nego do penso!!!!!

Daniela Schlogel disse...

Nossa, li tua carta e me senti meio péssima, não lembro quando foi a última vez que vi um show legal e me senti assim!

Unknown disse...

Hotel, só mesmo, de normal, "você e eu"...
Certa Palavra!
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Luna, e você deixou passar o show dela...
beijo
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Vanessa, cê ta aprendendo... tá ficando espertinha.
beijo na boca.
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Drisph, vou falar lá...

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E pra você que leu e não comentou, tenho duas perguntas:
1) Você já ouviu a Badi Assad cantar?

2) Tá esperando o quê?


Um beijo e um abraço e jamais se esqueça: A Mina do Cara te ama!

Patrícia Castro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Patrícia Castro disse...

Não A mina do Cara, ainda não tive o prazer, mas fiquei curiosa! Vc tem razão, arte não é para o povo, arte ajuda a desenvolver o senso crítico e, afinal, quem é que quer ter um povo que pense? Bjão