Esses dias falei para meus
alunos: daqui dez anos, vocês chegarão em uma livraria e verão um livro meu,
ficarão curiosos, lerão o livro; e vocês pensarão, ele escreveu enquanto nos
dava aula; o que nós perdemos...
E eu penso também. Penso em como
poderia gastar meu tempo trabalhando em algo produtivo. A pior sensação é a de
incapacidade. Sou professor de alunos especiais, como síndrome de Down, Asperger,
alguns com tumores cerebrais, e também alunos regulares. Estes eu sinto que
ensino menos, muito menos.
As crianças estão certas de não
gostarem de escola. Não há nada mais chato do que uma escola. Agora, para
alunos que vibram quando acertam uma questão, alunos que se esforçam para
conseguir fazer, superam no dia a dia obstáculos que, para alguns, seriam meros
obstáculos, para eles a escola é atraente. É bom demais alunos assim.
Ótima oportunidade para observar,
olhar, reparar. Momento oportuno para deixar a vaidade um pouco de lado – para alguns. E justamente nessa hora fica claro o tamanho das pessoas.
Dizem que os pequenos somem na
multidão, mas nesse contexto não, os menores se sobresaem. Como é fácil ver pessoas pequenas. Grandes
nomes, grandes marcas, grandes coisas. Literalmente, grande coisa.
Ser ou não ser bom entre os ruins,
eis a questão.
Vou contar um caso mas você
promete que não comenta com ninguém?
Um dia, uma aluna não terminou a
prova no tempo devido. Ela nunca termina. Coloquei-a na sala ao lado e falei:
faz a prova enquanto dou aula para essa turma. Dei aula e esqueci que ela
ficara fazendo prova. Na sala dos professores, ela chegou com a prova e disse
que não havia terminado, e que a diretora da escola, ao passar pela sala, deu
duas respostas. Ou seja...
Não é bom receber gestos de
honestidade de uma aluna? Ela foi pra casa terminar a prova.
Isso no turno da manhã.
À tarde foi uma comédia. Foi a
comédia da vida alheia, em primeira pessoa. Justamente à tarde, hora em que os
alunos regulares estão na escola, acontecem as cenas cômicas, aquelas que
Verissimo nos ensina a olhar.
E para falar a verdade, não tenho
coragem de descrever cenas impróprias para pessoas puras, que não acreditam que
episódios tão tragicômicos podem acontecer com pessoas de grandes nomes,
grandes marcas, grandes coisas.
Literalmente, grande coisa.
Um comentário:
Adorei, como de costume!
Há tempos não lia aqui... aproveitei pra espalhar vários eu "curti"... rs
Beijos
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