29 de jan. de 2015

Épocas

Hoje na biblioteca vi um jovem cabeludo enrolando as pontas do cabelo e pensei, uma época era eu assim, cabeludo, contra todos e contra tudo.

Era uma época boa, minhas preocupações não ultrapassavam meu umbigo, ou o limite do meu pensamento.

Nessa mesma época eu precisava escolher a profissão da minha vida. Eu queria ser poeta e escritor, mais nada. Pensava que só precisaria ler livros e escrever. Época inocente.

Um tempo atrás eu queria ser maldito, invisível, publicar meus livros e ficar no meu canto, longe, afastado. Talvez hoje eu seja, mas porque não vem nenhum repórter até mim.

Lembro perfeitamente da época que minha conta bancária não ultrapassava dois dígitos; depois ela chegou a três e não saía; quando chegou a quatro pensei estar rico. Pobre de mim. Mal sabia que entre quatro e cinco dígitos a diferença é a conta a pagar.

Houve uma época que eu era aluno e odiava a escola; chegou o tempo de professor e eu mantive o sentimento. A única esperança que alimento, em relação à escola, é que ela sai da época das cavernas e viva o presente.

Em determinado momento da vida queria escrever em jornais e revistas, e também ser revisor. Eu ainda não sabia como é vida midiática. Depois não quis saber mais disso, julguei tudo e todos e deixei a ideia de lado.

Deixar de lado boas ideias é constante na vida. Lembro da época que queria tocar violão perfeitamente sem precisar estudar horas a fio. Pobre de mim.


Fico lembrando das épocas que vivi e imaginando as que virão.

5 de jan. de 2015

Tarde da beleza

            “Helen, meu amor, volta pra cama.”

“Um minuto, preciso confirmar a hora do salão. Isso é importantíssimo. Alô, Fê, é a Helen, tudo bem? Olha só, meu horário das seis está confirmado, né? Ótimo, seis em ponto estou aí.”

“Quer dizer que pra me ver não precisa passar no salão antes, pra sair com o maridinho precisa...”

“Você gosta de mim ao natural, eu sei disso.”

“E que milagre é esse de vir no sábado à tarde? Aposto que fez uma lista de coisas a fazer no salão durante o almoço.”

“Provoca... isso mesmo, provoca...”

“Não adianta me olhar com essa cara de quem quer jogar alguma coisa na minha cara.”

“Estou olhando e pensando que horas vai me chupar de novo, e parar com essa conversa fiada.”



“O bom da vida moderna é isso, com esse telefone a gente traz nossas músicas e passa a tarde com uma trilha sonora só nossa.”

“Depois quero pegar essas músicas pra escutar no carro.”

“Pra escutar com o maridinho, que lindo...”

“Não, pra escutar com o Iuri!”

“E como ele tá, curto sempre as fotos dele. Tem alguma nova no celular?”

“Tenho, olha essa aqui, e essa.”

“E que milagre foi esse de não passar a tarde com ele?”

“Hoje ele ficou lendo o livro da escola com o Ma. Aposto que nem leram uma página sequer. Devem ter ligado a televisão quando fechei a porta. Hoje eu marquei meu salão justo no horário que termina o futebol, e saí de casa antes de começar o futebol, só pra ficar com você.”

“Te amo, Helen.”

“Eu também te amo, minha linda.”

“Larga ele pra lá e vamos viver juntas, com o Iuri, claro; ele vai adorar ter duas mães.”

“Não dá. Não vamos começar tudo de novo.”

“Está bem. Vem cá, me abraça, me faz carinho, diz que me ama.”

“Te amo.”

“Diz que vai desmarcar o salão e ficar mais comigo.”


“Depois a gente conversa sobre isso, meu amor.”

29 de nov. de 2014

A prova

Vivemos em uma sociedade em que tudo precisa ser provado e comprovado. São as teses que devem ser comprovadas e aprovadas. São as aparências que precisam de aprovação. Nossas ideias, então, necessitam aprovações.

A ciência prova tudo. Ou quase tudo. A prova disso é que com a morte de Roberto Bolaños nós ficamos órfãos de um personagem que nada teve de científico. Não provava nada. Nada tinha a não ser um barril como casa.

Provamos hoje que consideramos o personagem Chaves e Chapolim imortais. Não precisamos de nenhuma autoridade para declarar que a partir de agora o Chaves e o Chapolim não serão mais apenas personagens do seriado; eles são, acima de tudo, personagens imortais - assim como tantos outros que inspiram milhares de pessoas mundo afora.



Nós rimos muito assistindo ao Senhor Madruga batendo no Chaves, nós ríamos de doer a barriga com as trapalhadas na Vila. E eu provo por a mais b agora mesmo que no mínimo todos os telespectadores já viram mais de dez vezes cada episódio de Chaves; e aposto, para não ter mais uma prova garantida no currículo, que todas as pessoas um dia comeram um sanduíche de presunto de tanto ouvir o Chaves falar.

Todos nós queremos uma fantasia para ilustrar nosso imaginário. Gostamos e elegemos os personagens para povoar nossas mentes enquanto as ideias são compatíveis. Alguns duram horas, outros, meses ou anos, no entanto, alguns acompanham nossas vidas por anos. E assim foi o grande herói Chapolim Colorado. Com jargões que estão na gíria da galera há anos.

O homem por trás do personagem nos deixou. O personagem não nos deixará. Isso eu provo a você. Mesmo que essa seja uma prova "sem querer querendo"...


8 de out. de 2014

Votos de casamento

O AMOR JÁ FOI DESCRITO PELOS MAIORES POETAS DE TODOS OS TEMPOS.

O NOSSO AMOR NÃO.

O COMPANHEIRISMO, A AMIZADE, O RESPEITO, A LEALDADE ESTARÃO COMIGO ENQUANTO EU ESTIVER AO SEU LADO.

AMAR IMPLICA EM DOAR; DOAR PARTE DE MIM A VOCÊ. AMAR IMPLICA EM APRENDER; APRENDER A ACEITAR SUA PESSOA COM AS VIRTUDES E COM AQUILO QUE NÃO COMBINA COMIGO. E É JUSTAMENTE ESSA PARTE O MAIOR DESAFIO.

QUERO APRENDER NO DIA A DIA A AMAR SUAS QUALIDADES E A TRANSFORMAR EM AMOR AS NOSSAS DIFERENÇAS.

HOJE SOMOS JOVENS, SAUDÁVEIS, BELOS. ESSAS PALAVRAS SERÃO GUARDADAS PARA SEREM LIDAS QUANDO FORMOS COMEMORAR NOSSAS BODAS. LEREMOS EMOCIONADOS AO LEMBRAR QUE HOJE, DIANTE DE PESSOAS QUERIDAS, DISSEMOS “SIM” UM AO OUTRO.

MUITO MAIS QUE DIZER “SIM” A VOCÊ, EU DISSE SIM A NÓS, A NOSSA FAMÍLIA, POIS NÓS SOMOS UMA FAMÍLIA.

"EU SEI QUE VOU TE AMAR, POR TODA MINHA VIDA”, E NÃO SERÁ FÁCIL, POIS “AMOR É O FOGO QUE ARDE SEM SE VER”; ASSIM É “TÃO BOM MORRER DE AMOR! E CONTINUAR VIVENDO...” AGORA, “SE O AMOR É FANTASIA, EU ME ENCONTRO EM PLENO CARNAVAL”. “TUDO VALE A PENA SUA ALMA NÃO É PEQUENA” PORQUE “AMAR SE APRENDE AMANDO”, E “ENQUANTO DURA O AMOR, EU AMO COMO UM LOUCO”.
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20 de ago. de 2014

A vida é uma brincalhona

“vo  vc n acredita”

“o que foi?”

“seu livro vai cair na prova”

“qual?”

“agosto”

“...”

“vc me da umas dicas?”

“dou...”

“depois t ligo o prof ta vindo bjo”




10 de ago. de 2014

Dia dos Pais e Dia dos Padrastos

Hoje todo mundo posta uma foto com o pai, agradece pelas lições, pelas broncas, e assume que tudo valeu a pena. É lindo, eu também acho. Se me permitir, aproveito e digo que aprendi muito com todas as lições que pai me passou, sou muito grato a ele por tudo. 

Agora, e quem lembra do padrasto? Por que não aproveitam o Dia dos Pais para homenagear aquele que está presente justamente quando a criança precisa do pai e ele não está? 

Não sei se você sabe, mas muitas vezes o padrasto é mais presente que o pai. Morando na mesma cidade ou não; querendo ou não. O mercado poderia abrir sua cabeça e deixar de preconceito e criar o Dia do Padrasto. Pode ser no sábado, véspera do Dia dos Pais.


Não haveria problema para comprar os presentes, pois o boom seria na sexta, e não no sábado. Não haveria problema da criança, ou mais velho mesmo, deixar quem está ao seu lado todos os dias, para almoçar com o pai. 

Conheço amigos que têm ligações muito forte com seus padrastos, foram eles que ensinaram meus amigos a andar de bicicleta, a soltar pipa, a jogar bola. Foram os padrastos que tiraram as rodinhas da bicicleta e viram os primeiros tombos. 

Um amigo, que é padrasto, me disse uma verdade muito interessante: o bom de ser padrasto é que não preciso ver minha enteada somente uma vez por semana, e justo para levá-la ao shopping e comer porcaria; passo com ela a semana toda, vemos desenhos, brincamos, almoçamos juntos, enfim, somos como pai e filha. 

Outro caso interessante foi da noiva que quis entrar na igreja com o pai e o paidrasto - como ela escreveu no convite. Ficou resolvido, depois de algum tempo, que ela entraria metade da igreja com cada um. Tenho certeza que essa noiva, hoje, estregará dois presentes, para dois pais diferentes. 

A ideia do Dia do Padrasto está lançada. Se essa moda pegar não vou cobrar direitos. Quero apenas ganhar presente todos os anos. 

17 de jul. de 2014

Vizinhança do barulho

Você pode pensar que começarei a falar da barulheira que meus vizinhos fazem, de como isso me atormenta; pode também pensar que eu sou o vizinho chato que ligo o som bem alto e não estou preocupado com o outro; e também pode pensar no seu vizinho. É como se fosse uma tribo, são vários tipos de vizinhos.

Ser vizinho de músico pode não ser tão legal quanto parece, até porque o músico mais estuda do que trabalha. E para quem não sabe, um bom instrumentista passa horas praticando os mesmo sons, o que pode ser o mesmo barulho para seu vizinho. Bateria, guitarra, sax, pode ser a música que você mais gosta, dez vezes por dia uma frase faz qualquer vizinho pirar.

Tem o vizinho que jura ser DJ. Coloca músicas aleatórias no máximo, às vezes chiado nas caixinhas do computador. Atormenta com pop, rock, axé, funk, eletrônico. Quem não tem um vizinho assim? Se você não tem, seu vizinho tem, com certeza.

Meus primeiros amigos, quando fui embora de BH, eram meus vizinhos. Em Foz do Iguaçu era normal ter vizinhos de diferentes nacionalidades, culturas diversas. Lembro perfeitamente que meus amigos eram árabes, coreanos, paraguaios, chineses, tinha até brasileiro. Nós convivíamos perfeitamente, éramos unidos pelas brincadeiras, entre elas o futebol. Todo vizinho já teve um time de futebol da rua, do bairro.

Toda vizinha tem aquele bom de bola, aquele brigão, a vizinha bonita, a mal falada, a fofoqueira e também o fofoqueiro. Quem nunca teve por perto alguém que deu trabalho aos pais desde muito cedo? Aposto que não era só na minha rua que tinha aquele menino travesso que apertava a campainha dos vizinhos e saía correndo, ou aquele que ligava passando trote com a voz mais conhecida do bairro - e ele tentava disfarçar.


Sempre tive vizinhos de várias partes do mundo. Até hoje eu tenho contato com alguns, mesmo morando longe. Um deles, que foi meu vizinho em Foz em 1993, é meu amigo virtual e acompanhamos nossas vidas pela internet. Não deixamos ser vizinhos.

Não sei por que mas á única vez que não fiz amizade com meus vizinhos foi quando voltei a morar em BH. Se eu falar você não acredita, mas fui descobrir o nome do meu antigo vizinho - que morou ao meu lado por uns dois anos - no grupo do bairro no Facebook. Acredita nisso? E o atual vizinho que não está no grupo, como faço para conhecê-lo? Não cumprimenta, sua janela dá para meu quintal, eu olho pra ele e ele me olha, e é incapaz de acenar.

Entre vizinhos não pode haver brigas, conflitos, é preciso haver entendimento. Imagine você, que mora em apartamento, discutir com seu vizinho de baixo porque ele torce pro seu rival e todo jogo escuta os gols no máximo; segunda cedo os dois saindo para trabalhar, dentro do elevador, aquele clima ruim de segunda com sono, os dois rivais se olhando e acaba a luz no prédio. Presos no elevador. Guerra ou paz?

Vizinhos de porta, de bairro, de cidade, de país. Se nos odiarmos por não termos os mesmos gostos, os mesmos hábitos, a quem pediremos açúcar domingo à noite, como pediremos para pegar a bola que foi mais alta que o muro?


Vizinho é como parente chato - ou sogra -, não há como evitar.

23 de mai. de 2014

Carta à Badi Assad (2)

Assistir ao show da Badi Assad é certeza de inspiração, surpresa, emoção, encantamento. Não há como sair do teatro sem vontade criar algo, nem que seja uma simples carta que provavelmente ela não lerá. Mas não tem como sair de mente abanando.

É a quarta vez que vejo a Badi de frente e cada vez parece a primeira. Até porque seus shows não devem se repetir. Uma artista singular, única, incapaz de seguir as "regrinhas" da indústria musical.

Ainda bem que existem artistas da mais alta qualidade desafiando essa indústria da música quadrada, do refrão fácil, das letras bobinhas e alegres. Badi nos faz pensar, refletir.

BH - 22/05/2014 - Foto: Daniel Kersys

O domínio de palco é sensacional. O violão é extensão de seu corpo, ela toca e anda pelo palco; toca e dança; toca e encanta; toca e canta. Sua voz maravilhosa transita entre o suave e o berro, entre os vocalizes e as falas sutis.

É muito complicado escrever sobre o show. Mistura muita emoção. Sou fã da Badi desde o primeiro encontro. E vou falar como foi.

Eu fazia aula de guitarra, queria tocar um pouco de hardcore, punk, essas coisas. E meu professor, percebendo que eu sou uma pessoa aberta, me mostrou um vídeo de uma entrevista em que tocava "Asa branca" com os vocalizes, percussão vocal, violão, tudo junto. Aquilo fez meu mundo parar. Eu nunca mais quis tocar hardcore. Nem ouvi mais.

Comecei a procurar pelas músicas e tudo mais sobre o trabalho da Badi. Sou fã mesmo.

Eu tenho uma ligação tão forte com a música que sempre que conheço alguém que conversa comigo sobre música eu falo, você conhece a Badi Assad? Apresento o som e a pessoa gosta, na hora. Me sinto como o menino que é dono da bola nova um dia depois do natal.

Ontem no show estávamos em cinco. Eu apresentei o som para as outras quatro pessoas. Todos nós na segunda fileira do teatro ouvindo e babando, admirados. No final do show a resenha foi assim: puta merda, o que é isso! Inacreditável! Não é possível, é sensacional!

Existe tudo isso em relação à Badi, sua música, seu talento. Mas o que mais me deixa encabulado é com a humildade dela. Uma artista do nível dela sentar numa cadeira, de chinelo havaiana, conversar e assinar os CDs que vende após o show. Sinceramente, ela poderia chegar no palco, tocar suas músicas, mostrar toda sua virtuosidade, suas técnicas incopiáveis, achar ruim do teatro não estar lotado, ir embora e nem falar nada.

Pelo contrário, Badi é a simpatia em pessoa, no palco e fora dele. Muito feliz em poder vê-la. Eu sempre quis entregar a ela uma letra que fiz que sonho em ouvi-la cantar, mas isso já muita arrogância minha, eu acho. Mas o que eu fiz foi deixar um exemplar do meu livro com ela. E o melhor, ela olhou a capa e a contra-capa e sacou a ideia e disse, linda a capa do seu livro; e riu da brincadeira dos títulos.

Eu, que já havia ganho a noite, apliquei uma goleada depois dessa! O sorriso de orelha a orelha.

Badi Assad deve ser a única pessoa no Brasil que sobe no palco com o violão que ninguém tem coragem de gritar: toca Raul!


***

Aqui está a carta 1.

20 de mai. de 2014

Contatos

Logo que voltei a morar em BH (2007), eu estava decidido a ficar quieto, na minha. Já havia optado pela profissão de escritor, e queria ficar no estilo dos meus escritores preferidos, Rubem Fonseca e Dalton Trevisan. Ou seja: longe dos holofotes.

Conhecia as pessoas e não trocava telefone, anotava e-mail, nada disso. Vez por outra eu anotava um telefone, mas só de quem me interessava mesmo. Nunca gostei desse negócio de ter mil contatos na agenda.

Com o passar dos anos fui me "socializando", criei uma conta no Facebook, postei fotos e algumas outras coisas. Paralelo a isso, meu trabalho como professor e revisor de textos pelo Certa Palavra ia sem muita publicidade. O mínimo de publicidade me trazia o mínimo de dinheiro, mas eu não queria saber de exposição.

Até que decidi que o Certa Palavra deveria ter publicidade. E não é que o trem virou! Hoje faço propagandas nas redes sociais e nas ruas. Toda semana vou nas escolas e nos cursinhos panfletar e atrair alunos para os cursos.

Sempre do meu jeito, sem grandes alardes, sem me promover como o grande-foda-do-pedaço. Nisso, consegui firmar parceria com um conhecido cursinho de Química.

Até que fui indicado a fazer a revisão do próximo livro do professor Pachecão. Para quem não conhece, o Pachecão é o professor que revolucionou a maneira de dar aulas nos cursinhos, com música, festa em sala; gravou CD com as músicas de física e mais uma porção de coisas.



Enfim, quando comentei com alguns amigos que estava trabalhando no próximo livro do Pachecão, várias pessoas me disseram, que bom, ele é um ótimo contato, pode arrumar uma boa indicação pra você, ele pode te colocar num cursinho bom, ele pode isso, ele pode aquilo... Engraçado, ninguém comentou nada a respeito do meu trabalho estar dando os frutos que planto há anos, ninguém valorizou meu trabalho, apenas os contatos que ele poderia me indicar.

Os contatos que tenho são classificados assim, por mim: familiares, amizades, profissionais. Família e amigos são sempre bem-vindos; os profissionais são duvidosos, sempre. Muitos buscam desclassificar meu trabalho apenas porque não sigo o padrãozinho que está por aí; outros firmam parcerias que nunca dão certo; tenho "parcerias" que só servem para mandar trabalho e pedir favor, mas pagar que é bom nada. Isso é parceria?

Quantos amigos se fizeram parceiros e na hora da grana sumiram? Quantos se fizeram de amigos e difamaram seu trabalho? Quantos contatos você tem na agenda que não servem para nada?

Todos os dias busco fazer parceria e na grande maioria escuto "não" eufemizado. Na terra dos eufemismos e meias verdades eu caminho ouvindo "nãos", vendo pessoas me diminuírem para supervalorizar talentos duvidosos. Mas isso não me importa mais. Minha meta é outra.

Minha meta é trabalhar para transformar esses "nãos". Tudo nessa vida muda. Um dia, e esse dia virá, essas pessoas que hoje dizem "não" sem conhecer meu trabalho, virão me procurar.

Escreva o que estou escrevendo. Ficou esquisito, né? Mas escreva mesmo assim.

11 de mai. de 2014

Mãe só tem uma

Eu sou uma pessoa de sorte. De muita sorte. Pela minha vida passaram pessoas maravilhosas, amigos e amigas, familiares próximos e distantes. Entre todas as pessoas, destaco hoje três. Três mães. 

Por ordem, começo a lembrar da minha querida avó Memé. As primeiras lembranças são de quando ainda morava em BH (1988 mais ou menos). Nós a esperávamos em casa, do lado de dentro, e quando ela tocava a campainha, nós gritávamos: vó, trouxe bolsa? Joga a bolsa, vó! 

Era sua bolsa com algumas balas que ela trazia. Só depois de adulto fui descobrir que essas balas eram compradas no ponto de ônibus, com seus trocados. Mas isso nunca fez diferença, as balas eram deliciosas. 

Como moramos longe, víamos nossas famílias duas vezes ao ano - no máximo. Lembro perfeitamente de uma vez que viemos de Foz para BH e chegamos umas 4 ou 5 da manhã. Estava escuro, a cidade ainda dormia, e quando chegamos em casa o que vimos, vovó Memé no fogão fritando os biscoitinhos que nós adorávamos, assando pão de queijo, passando café. 

Entre todas as lembranças boas, tudo o que eu gostaria de escrever é que eu aprendi muito com minha amada avó quando voltamos a morar em BH. Como ela já estava com mais de 95 anos, era natural que viesse para nossa casa nos finais de semana. E nessas ocasiões, entre todas as conversas, uma coisa sempre me fazia sorrir e refletir: ela sempre acordava de bom humor, e as primeiras palavras eram sempre acompanhadas de uma risada. Nunca me permiti acordar de mal humor depois que acostumei a vê-la acordar assim, de bem com a vida. 

Quanta saudade eu sinto da minha avó. 


Passando para o lado paterno, minha avó Helena é da melhor qualidade possível. Eu nunca a vi falar mal ou reclamar de qualquer coisa. Uma pessoa de bem com a vida. Adora a casa cheia, a família toda reunida. 

Vovó Lelena nos acompanhou para Foz do Iguaçu em 1989, quando mudamos. Lembro que saímos de BH com frio e chegamos em Foz com um calor insuportável. Nós não conseguíamos fazer nada além de ficar na piscina do hotel. 

Tenho outra lembrança dela em Foz. Eu tinha uns 13 ou 14 anos e resolvi guardar o carro na garagem. Nunca havia dirigido. Não lembro se meu pai ou minha mãe entrou no carro comigo. Eu não tinha a menor noção de direção, e o que eu fiz? Acelerei tudo e fui direto no muro! O muro caiu. E quando parecia que nosso susto era só a batida, quem estava atrás do muro, colhendo um moranguinho no pé: a vovó. Coitada, tomou o maior susto. 

Até hoje essa história tem duas versões: a que minha vó estava longe do muro e só tomou um susto, e a que minha vó estava bem atrás do muro e tomou o maior susto; e tem a versão da minha mãe que voou na minha avó uma pedrinha do muro - mas acho que isso já é exagero.

Sou muito grato por ter minha avó firme e forte com seus 93 anos. Tenho ótimas lembranças dela, muitos momentos felizes, inúmeras histórias. Uma senhora maravilhosa, de bem com a vida, tranquila, exala paz, harmonia, sabedoria. Como é bom saber que amanhã irei vê-la e dar um beijo e um abraço e desejá-la feliz dia das mães. 

Com toda sua sabedoria sempre diz: estranhos são os caminhos da vida. 

Saindo da geração das avós, abro espaço para falar da minha mãe. Que agora é a vovó Zélia.

Minha mãe é uma pessoa extremamente especial. Uma pessoa que eu tenho certeza de que posso contar sempre, e pro que der e vier. Entre todas as lembranças, uma que reflete agora é de quando sentava para estudar conosco. Ela fazia ditado, tomava a matéria. Hoje eu fico pensando, pra quem era mais difícil ficar sentado na mesa, ela ou eu. Nós dois somos agitados, mal conseguimos ficar parados. 

É muito difícil falar da nossa mãe, ainda mais se já demos tanto trabalho, tanta decepção. Pelos menos as alegrias também vieram, os motivos de orgulho. 

Nós vemos quem é a pessoa quando as coisas não estão bem, porque é muito fácil ser amigo e companheiro nos bons momentos, agora, quando as coisas não estão bem é que vemos quem é quem. E eu posso afirmar com muito orgulho que minha mãe não foge da luta. O que minha mãe fez por sua mãe, minha vó, é para deixar qualquer um orgulhoso. Minha avó ficou mal e precisou de cuidados especiais, e lá estava minha mãe. E com ela ficou até o último suspiro. 

Lembro perfeitamente do dia 14/09/2012. Minha mãe me acordou antes de tocar meu despertador, com um pressentimento ruim, pediu para levá-la ao hospital que minha vó estava. Nós fomos cedo até o hospital. Dei pela última vez um beijo em minha vó, apertei sua mão; dei um beijo em minha mãe e outro em minha madrinha que havia dormido no hospital, e saí chorando para trabalhar. Depois do almoço minha mãe me telefona com a notícia mais triste que eu poderia ouvir. 

Foi nesse momento que eu percebi que mãe só tem uma. E sou muito feliz pela mãe que tenho. 

E por último, mas não menos importante, é a vez de falar da Lívia, mãe do Mateus. A Lívia entrou na minha vida para ficar. Nos conhecemos na escola que trabalhamos. Somos duas pessoas completamente diferentes, mas o que importa é que nos entendemos. 

Seu filho, Mateus, é a alegria da casa - na casa dela e aqui em casa. Ainda reina como o único neto. E ele acha que eu sou uma criança no corpo de um adulto, nós brincamos, nos divertimos. 

A Lívia ri quando eu falo que gostei mais dela por ela ser mãe, mas é verdade. É nos pequenos atos que conhecemos as pessoas de verdade. É no seu trato com o filho, na importância que dá ao menino, à sua educação, a sua dedicação em fazer o melhor por ele. Nesses momentos difíceis que vemos quem a pessoa realmente é. 

E eu tenho certeza que formaremos uma família da pesada. Afinal, já somos duas crianças e uma mãe na casa... 

Feliz é quem pode se orgulhar da mãe que tem. Afinal, mãe só tem uma.