Eu sou uma pessoa de sorte. De muita sorte. Pela minha vida passaram pessoas maravilhosas, amigos e amigas, familiares próximos e distantes. Entre todas as pessoas, destaco hoje três. Três mães.
Por ordem, começo a lembrar da minha querida avó Memé. As primeiras lembranças são de quando ainda morava em BH (1988 mais ou menos). Nós a esperávamos em casa, do lado de dentro, e quando ela tocava a campainha, nós gritávamos: vó, trouxe bolsa? Joga a bolsa, vó!
Era sua bolsa com algumas balas que ela trazia. Só depois de adulto fui descobrir que essas balas eram compradas no ponto de ônibus, com seus trocados. Mas isso nunca fez diferença, as balas eram deliciosas.
Como moramos longe, víamos nossas famílias duas vezes ao ano - no máximo. Lembro perfeitamente de uma vez que viemos de Foz para BH e chegamos umas 4 ou 5 da manhã. Estava escuro, a cidade ainda dormia, e quando chegamos em casa o que vimos, vovó Memé no fogão fritando os biscoitinhos que nós adorávamos, assando pão de queijo, passando café.
Entre todas as lembranças boas, tudo o que eu gostaria de escrever é que eu aprendi muito com minha amada avó quando voltamos a morar em BH. Como ela já estava com mais de 95 anos, era natural que viesse para nossa casa nos finais de semana. E nessas ocasiões, entre todas as conversas, uma coisa sempre me fazia sorrir e refletir: ela sempre acordava de bom humor, e as primeiras palavras eram sempre acompanhadas de uma risada. Nunca me permiti acordar de mal humor depois que acostumei a vê-la acordar assim, de bem com a vida.
Quanta saudade eu sinto da minha avó.
Passando para o lado paterno, minha avó Helena é da melhor qualidade possível. Eu nunca a vi falar mal ou reclamar de qualquer coisa. Uma pessoa de bem com a vida. Adora a casa cheia, a família toda reunida.
Vovó Lelena nos acompanhou para Foz do Iguaçu em 1989, quando mudamos. Lembro que saímos de BH com frio e chegamos em Foz com um calor insuportável. Nós não conseguíamos fazer nada além de ficar na piscina do hotel.
Tenho outra lembrança dela em Foz. Eu tinha uns 13 ou 14 anos e resolvi guardar o carro na garagem. Nunca havia dirigido. Não lembro se meu pai ou minha mãe entrou no carro comigo. Eu não tinha a menor noção de direção, e o que eu fiz? Acelerei tudo e fui direto no muro! O muro caiu. E quando parecia que nosso susto era só a batida, quem estava atrás do muro, colhendo um moranguinho no pé: a vovó. Coitada, tomou o maior susto.
Até hoje essa história tem duas versões: a que minha vó estava longe do muro e só tomou um susto, e a que minha vó estava bem atrás do muro e tomou o maior susto; e tem a versão da minha mãe que voou na minha avó uma pedrinha do muro - mas acho que isso já é exagero.
Sou muito grato por ter minha avó firme e forte com seus 93 anos. Tenho ótimas lembranças dela, muitos momentos felizes, inúmeras histórias. Uma senhora maravilhosa, de bem com a vida, tranquila, exala paz, harmonia, sabedoria. Como é bom saber que amanhã irei vê-la e dar um beijo e um abraço e desejá-la feliz dia das mães.
Com toda sua sabedoria sempre diz: estranhos são os caminhos da vida.
Saindo da geração das avós, abro espaço para falar da minha mãe. Que agora é a vovó Zélia.
Minha mãe é uma pessoa extremamente especial. Uma pessoa que eu tenho certeza de que posso contar sempre, e pro que der e vier. Entre todas as lembranças, uma que reflete agora é de quando sentava para estudar conosco. Ela fazia ditado, tomava a matéria. Hoje eu fico pensando, pra quem era mais difícil ficar sentado na mesa, ela ou eu. Nós dois somos agitados, mal conseguimos ficar parados.
É muito difícil falar da nossa mãe, ainda mais se já demos tanto trabalho, tanta decepção. Pelos menos as alegrias também vieram, os motivos de orgulho.
Nós vemos quem é a pessoa quando as coisas não estão bem, porque é muito fácil ser amigo e companheiro nos bons momentos, agora, quando as coisas não estão bem é que vemos quem é quem. E eu posso afirmar com muito orgulho que minha mãe não foge da luta. O que minha mãe fez por sua mãe, minha vó, é para deixar qualquer um orgulhoso. Minha avó ficou mal e precisou de cuidados especiais, e lá estava minha mãe. E com ela ficou até o último suspiro.
Lembro perfeitamente do dia 14/09/2012. Minha mãe me acordou antes de tocar meu despertador, com um pressentimento ruim, pediu para levá-la ao hospital que minha vó estava. Nós fomos cedo até o hospital. Dei pela última vez um beijo em minha vó, apertei sua mão; dei um beijo em minha mãe e outro em minha madrinha que havia dormido no hospital, e saí chorando para trabalhar. Depois do almoço minha mãe me telefona com a notícia mais triste que eu poderia ouvir.
Foi nesse momento que eu percebi que mãe só tem uma. E sou muito feliz pela mãe que tenho.
E por último, mas não menos importante, é a vez de falar da Lívia, mãe do Mateus. A Lívia entrou na minha vida para ficar. Nos conhecemos na escola que trabalhamos. Somos duas pessoas completamente diferentes, mas o que importa é que nos entendemos.
Seu filho, Mateus, é a alegria da casa - na casa dela e aqui em casa. Ainda reina como o único neto. E ele acha que eu sou uma criança no corpo de um adulto, nós brincamos, nos divertimos.
A Lívia ri quando eu falo que gostei mais dela por ela ser mãe, mas é verdade. É nos pequenos atos que conhecemos as pessoas de verdade. É no seu trato com o filho, na importância que dá ao menino, à sua educação, a sua dedicação em fazer o melhor por ele. Nesses momentos difíceis que vemos quem a pessoa realmente é.
E eu tenho certeza que formaremos uma família da pesada. Afinal, já somos duas crianças e uma mãe na casa...
Feliz é quem pode se orgulhar da mãe que tem. Afinal, mãe só tem uma.