13 de ago. de 2012

Ao meu pai

Entre as várias lições que meu pai dá, a mais lembrada aqui em casa é quando ele falava: não desejo nada de mal a vocês, só desejo que tenham um filho igual a cada um de vocês. Nós ríamos, achávamos graça e a brincadeira ia terminando aos poucos, até parar. Até que virou motivo de piada, e hoje quando falo aos meus amigos eles riem muito também.

Acredito que em todas as línguas do mundo deve existir a expressão: bem que meu pai falou. Essa frase é repetida aos montes, em todos os lugares, em todas as línguas. Soa muitas vezes como maldição, não soa? Um amigo me contou, certa vez, que falou ao pai seu plano para lucrar uma grana preta num negócio. O pai disse que não valia a pena o investimento. Tanto o filho pentelhou, o coroa bancou o investimento. Não deu outra, falência. Então o pai disse: eu não falei? Nem cobrou.

Damos muitas vezes motivos de desgosto. Agimos mal, nos defendemos atacando, somos ingratos, insatisfeitos. Mas somos filhos. Criados como reis e rainhas, com tudo na mão. Esforço? O mínimo. Até que um dia nós dizemos: a culpa é da minha mãe que...

Lembro de uma vez, quando menino, jogando no clube um campeonato de futebol, eu em campo e meu pai na arquibancada. Ele falava tanto comigo, falava mais que o técnico, foi incomodando, até que parei de jogar e falei: pô pai, deixa jogar!

E quem não tem histórias de futebol entre filho e pai para contar? Eu mesmo tenho uma especial que mudou minha vida. Eu era novo, uns treze, no máximo. Em uma roda de amigos, falando de jogadores de futebol, tocaram no assunto e falaram em desonestidade no futebol. Para mim, futebol nada mais era do que o jogo entre as quatro linhas, nada mais me importava além das quatro linhas.

Desde aquele dia nunca mais quis sonhar em ser jogador de futebol. Fiquei encabulado quando meu pai disse que era uma safadeza o mundo do futebol. Eu jamais gostaria de viver no meio de um mundo desonesto, com pessoas de índole ruim. Pô, eu era inocente. Acreditava em muitas coisas bobas.

Hoje analisando o meio esportivo, eu jamais seria atleta profissional. É difícil demais. Tem que gostar muito e dar a vida. São três paixões da minha vida dadas pelos meus pais: leitura, esporte e música.

Compreendo hoje o valor da base recebida em casa. Nos outros que conseguimos enxergar em nós. A insistência em educar, ser firme, ter o controle da situação, manter o controle da situação.

São escolhas. Eu acreditei que teria que seguir meu coração, e não a razão. Trilhei um caminho mais longo, fui desbravando, cavando meu buraquinho, subindo um degrau depois do outro.

Escolhi ser escritor, mas para ser escritor é preciso ser outra coisa. Conhecendo meu pai, se eu falasse, dez anos atrás, que queria ser escritor, ele falaria: então leia muito, tudo o que você puder. O mesmo que me disseram os professores. Mas não falei nada de ser escritor. E a grana?

Até que um dia decidi que escreveria um livro, mas não falaria dele pra ninguém. Antes de terminar de escrever o livro já tinha contato pra uma porção de gente. E foram anos e anos trabalhando no livro paralelamente até que ele aponta no fim do túnel. E eu só não falo sobre meu livro com meu pai.

Ele verá e saberá que foram anos de trabalho e dedicação. Entenderá, enfim, uma de minhas escolhas. E eu tenho certeza que ele vai ficar encucado querendo saber de onde eu tiro minhas histórias.

Já até pensei na resposta: é aí que tá, pai, de onde eu tiro essas histórias...

2 comentários:

Bandys disse...

Eu entendo perfeitamente uma de suas escolhas.
E posso até não estar aqui sempre, mas toda vez que eu venho eu fico em festa por ler você.

Vi que você responde por aqui, então virei mais.

Você esteve no meu canto que esta fechado, rsrs!! O certo é o 2.

Deixo um beijo e um raminho de flores para enfeitar sua noite.


Unknown disse...

Bandys, um beijo.


A Mina do Cara te ama e não nega!