4 de set. de 2010

Ai que inveja!

Logo de cara vou assumir uma coisa: eu tenho inveja de pessoas que conseguem parar e ficar no mesmo local por algum tempo. Eu não consigo fazer isso. Por mais que eu tente, parar é muito difícil para mim. Só quando eu sento para ler. Mas não estou levando isso em conta. E nem estudar, ou sentar aqui para escrever.



Enquanto eu penso isso passo por uma loja e vejo na promoção uma camisa dos Beatles por 10 reais. Legal, mas nem gosto tanto assim deles para comprar uma camisa, se bem que por dez reais...

Dois passos para frente e vejo um vulto. É uma pessoa escolhendo restos no lixo. Me parecia comer macarrão, com mais alguma coisa em sua mão. Um resto de fruta, será?

Mais cinco ou seis passos e eu passo em frente a uma lanchonete. Dentro tem mais ou menos cinco pessoas, e dessas cinco, quatro olham para a televisão de plasma na parede. Vou confessar uma coisa, eu detesto ir a lugares que tem televisão. Isso serve para cortar a conversa, anular o assunto. 

E eu pensando besteira, sentindo inveja de pessoas que conseguem parar em frente a uma televisão (em casa!) e assistir a dois filmes seguidos. O que será que pensa o camarada que estava catando comida no lixo ao passar pela mesma lanchonete que eu passei? Será que ele sente a mesma coisa pela televisão?, será que ele pensaria na televisão ao passar pela lanchonete e ver pessoas limpas comendo comidas que logo serão dele, no lixo.

E eu pensando besteira. E a inveja que alguém sente ao ver um tênis da moda, uma blusinha nova, um novo modelo inacessível?

Esses pensamentos vão ocupando minha mente enquanto caminho pela rua. Lembrei da primeira vez que fui a feirinha comer feijão tropeiro, logo que voltei a morar em BH. Foi um espanto ver que toda hora que alguém estava com um espeto, um prato qualquer, aparecia um menino pedindo um pedaço de carne, uma colherada de tropeiro. E a grande maioria agia de maneira indiferente ao pedinte, como quem quer dizer: sai pra lá, menino, vai comer do seu que este é meu!

O problema é que o dele não vem. Lembro que cheguei em casa e escrevi a letra “Pelo amor de Deus”: “Pelo amor de Deus, como permite a fome dessas crianças / Pelo amor de Deus, como Deus não mata a fome dessas crianças / Não vê Deus, que ele seria médico, político, arquiteto / mas é mesmo um sem teto” [...].

De lá pra cá não mudou nada. 

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Essa música eu ouvia quando morei em Floripa. É a cara desta crônica.

7 comentários:

Cristina Maria disse...

Terminei de ler o post ao mesmo tempo em que ouvi o som.
Hoje entendo o mecanismo da coisa toda.
Deus não está vendo nada, os humanos (seres?) criaram esse factóide pra anular suas culpas e responsabilidades.
Cada um tem seus milagres e desgraças também, uma delas é ter consciência, isso dói, e dá pra voltar atrás? Tenho pena de mim, não dá...
Teu post está uma jóia!

(Isso, digo teu assunto, comove almas? Espero que sim)

Patrícia Castro disse...

Você enxergou isso porque é sensível, tem preocupação com o outro. Infelizmente não podemos resolver essas tristes histórias, ainda que um dia matemos a fome deles, no outro, continua a mesma luta. Ele é um, todavia são muitos os que morrem de fome de comida e de fome cultura, de educação. Parabéns pelo texto reflexivo. Abraços

2edoissao5 disse...

dificil qdo vemos e sentimos as disparidades sociais que temos por aqui...

ps. como alguem nao gosta tanto dos beatles?!?!?!?!?!?!?

Unknown disse...

Obrigado Patrícia. Que bom que voltou a vir aqui.

So sad, eu estou aprendendo a gosta de Beatles. Já toco umas músicas deles, mas não sei quase nada deles. E olha só, eu vim pra casa agora ouvindo White Album...

A Cristina já é de casa e sabe muito mais deste assunto de hoje do que eu...

Valéria lima disse...

"Pra que que tanta perna (máscara), meu Deus, pergunta meu coração? Porém meus olhos não perguntam nada." é Drummond com seu poema das Sete Faces. Lembrei dele, vestimos máscaras mesmo, as da falsidade, amizade, alegria, tristeza, cansaço, ânimo, descaso, compaixão. Temos todas elas à disposição.

BeijooO*

2edoissao5 disse...

opa! entao vc tem salvação! rs
white album é demais, alias eu sou fã dos beatles desde criança, eles foram minha xuxa, rsrsrsrs
adoro todos, e ainda os deles solo.
não posso imaginar minha vida sem eles...
beijo!

ps. diz a lenda que o kurt ouviu o album with the beatles um fim de semana inteiro e fez o nevermind.

Luna Sanchez disse...

"Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais..."


(Alberto Caeiro)

Beijo, beijo.

ℓυηα