24 de mai. de 2010

Segredo

Hoje tenho um segredo para contar. Sei que não tenho inúmeros leitores, que este blog não é a sensação da net, não tem piadas engraçadas, a vida das pessoas que aparecem na tevê, e principalmente, não nomeio as minas dos caras.

Se tem algo que o brasileiro tem pavor é professor. Ainda mais professor de português. É impressionante como ninguém gosta de professor de português. O professor de literatura é um pouco indiferente, para os alunos. Ele fala de uns livros que ninguém nunca leu e nunca lerá, cobra uns nomes nas provas, o enredo de algumas tramas e fica por isso mesmo. Ninguém nunca reprova de ano por culpa da literatura.

Agora, professor de português ninguém quer nem saber por onde anda, como vai, se a família vai bem. Geralmente o professor de português ensina aos alunos algumas regras aparentemente inúteis, coisas como oração subordinada, complemento nominal e verbal, frase e oração, subordinação do sujeito, e os dois piores de todos, vírgula e crase. (Esses ningém aprende.)

A vírgula e a crase são responsáveis pela coceira que a mãe do professor sente nas orelhas, com certeza. Ninguém aprende vírgula ou crase sem dizer um filho da puta, ou, pra que vou aprender essa merda? Você aí, leitor atento, tem noção do valor de aprender vírgula e crase? Essas duas eu acho que tem que ser ensinadas mesmo, agora, subordinação do sujeito, adjunto adnominal do núcleo do sujeito...

Você sentia prazer ao copiar do quadro negro Oração Subordinada Substantiva Completiva Nominal? E quando a professora escrevia um texto e você copiava inteiro para responder as perguntas, que normalmente estão em ordem com os parágrafos, sentia entusiasmo?

Não quero menosprezar o professor de português, redação ou literatura. E também não quero revolucionar o método de ensino e aprendizagem deste nosso analfabeto país. Eu disse que tenho um segredo, e depois vou contar. Voltemos a bela língua portuguesa.

Quando você tinha 15 ou 16 anos sua professora passou como lição de casa a leitura de Os Sertões e você não entendeu nada. Certo? Depois você leu Machado de Assis, José de Alencar, Raul Pompéia e todos os românticos, naturalistas, parnasianos, simbolistas - ai meu Deus, o que esse Cruz e Souza está querendo dizer?! Você não conseguia ler, mal entendia uma palavra ou outra, e tinha que responder as questões da prova para passar de ano.

Depois de sofrer na escola você abandonou os livros, não é mesmo? Você não sentiu prazer algum lendo os grandes clássicos da noss literatura, certo? Você não está sozinho. E vem cá, você conhece alguém que teve uma professora de português legal? Pois é, eu também não.

E é aí que tá, acho que ninguém teve uma professora de português que fosse legal. Todas escreviam de vermelho nas nossas redações, que mais pareciam escritas em lápis e vermelho ao mesmo tempo. E redação nunca foi matéria preferida de ninguém, a não ser um ou outro que gostava de escrever para o jornalzinho da escola.

Parece que o professor de redação nunca está de acordo com nossas ideias. E o pior de tudo, quer que escrevamos com o vocabulário de um jornalista ou de um escritor profissional. Esses professores de redação...

Devo admitir que tive uns 5 professores de português que me salvaram (ou não!) a vida. Três professoras e dois professores. Das três, apenas uma era bonita. Isso é uma média incrível se você lembrar das professoras de português espalhadas por aí. E os dois professores foram importantes em suas aulas e fora delas. Os dois me disseram a mesma coisa quando falei sobre meus planos: leia muito, tudo o que aparecer na sua mão você leia.

Desses, dois eram de literatura, dois de gramática, e uma de redação. Depois encontrei apenas mais um ou dois professores de português que pude dizer, valeu a aula! E a surpresa vem agora: cursei Letras. Também sou professor de português, literatura e redação. Surpreso?


Com o passar dos anos descobri quem mais não gosta de professor de português, em escala: acadêmicos de jornalismo, jornalista, e o resto na nação. Já tinha pensado nisso? É incrível como os jornalistas deprezam os professores de português, os revisores de texto!

Então nobre leitor ou leitora deste blog, não conte por aí que sou professor de português, temo que ningúem mais queira entrar aqui e ler essas linhas. Certo? Conto com sua discrição. Obrigado.

12 comentários:

Valéria lima disse...

Muito bom! pode deixar que ninguém vai saber...rs
Eu sempre me dei bem com os professores de português já os de matemática, nossa, pé no saco!

BeijooO'

Sylvio de Alencar. disse...

Venho de bons colégios, tanto públicos quanto privados.
Por irônico que possa parecer, sempre fui um bom aluno nesta matéria.
Desde cedo descobri o prazer de uma leitura, levado pelas palavras (lidas), de meu pai, que me apresentou Rudyard Kipling. Após ter evidenciado meu gosto pela leitura, presenteou-me com outro de Jack London; eu tinha 8 ou 9 anos. Nunca mais parei de ler.

Quanto à professores (no geral), sei que têm que seguir uma docência as vezes burra, não é culpa deles; a falha está em se ater demasiado a ela, ignorando o que a nossa língua tem de belo.

Bem, aliviei o seu lado... Agora, dá licença, vou espalhar a novidade!

Cristina Maria disse...

Nossa quanta estigmatização...não conto tudo bem, mas os piores professores são os maus, os que não gostam independente da disciplina.
Outra coisa, gosto do seu blog, mais seguidores não é mais qualidade, seu blog é ótimo, mas o que fazer com o gosto da média midaticamente generalizada? Eu não tenho a fórmula mágica.

Beijos!

Gisele Freire disse...

rsrsrsrs!
O meu melhor professor foi de português :)!
Bom texto my friend!
bj
Gi

Luna Sanchez disse...

Veja a coincidência : hoje, lá no Céu Aberto, falando sobre "Homens", nosso tema da semana, cito meu professor de Português da 5ª série, o quanto fui louca por ele, e como deixei de amá-lo, quando descobri um "pequeno detalhe"...rs

* Minha matéria preferida sempre foi Língua Portuguesa, estudava / estudo por prazer, sim.

Ah, e das vírgulas, tadinhas, costumo abusar. Onde é facultativo, coloco. Gosto de vírgulas.

Aqui, o link do post que falei, caso queira lê-lo :

http://aceuabertodaboca.blogspot.com/2010/05/nao-vivo-sem-eles.html

Beijo, beijo.

ℓυηα

B. disse...

teus textos estão cada vez melhores, :)
e isso me alegra.

e quanto a demora, um dia ouvi que o carinho é como o vinho, quanto mais demoramos para recebê-lo, mais ele nos agracia com seu sabor.

paz.

Canto da Boca disse...

Ô que delícia! Eu sempre digo que sou um caso perdido, porque eu adoro português & literatura, e quando consigo aprender um pouco mais sobre ambos, é motivo de muito contentamento. Como é bom saber que eu não sou a única "anormal" do mundo, e não sou professora de português, mas adoro a disciplina, matéria...

Abração!!

P.S.
Um blogue bombado nem sempre é o melhor, eu prefiro os que me emocionam e que me fazem desejar estar neles, como A mina do cara!

;)

B. disse...

aguardando atualizações :)

Sylvio de Alencar. disse...

Meu texto acima ficou meio capenga por não ter mencionado o currículo escolar a que todos os professores têm que seguir...

Outra coisa: antes vc comentava o que escrevíamos, parece que não mais o faz; o que é uma pena pois comentarios de autor é importante para nós que comentamos.
Notei que várias feras do blogguer aqui estão dando seus pitacos, e, nem uma palavrinha você dirigiu a elas..., uma pena.
Também somos filhos(as) de Deus, né?
Como seu texto é interativo, exige-se uma maior atenção de sua parte, falou querido?

Se voce fosse uma louraça belzebu, eu o teria tratado com mais carinho; mas macho..., tem é que levar cacete!!!
:)

Abrçs.

Unknown disse...

Taí, gostei de ver o pessoal em defesa dos professores.

Sylvio de Alencar. disse...

Poderíamos fazer mais do que 'defender'...

Poderíamos 'amá-los', caso nos dessem mais atenção (aqui, não em nossas caixas de emails).

:)

Lauro Dieckmann disse...

naum concordo com isso de que jornalista naum gosta de professor de português