7 de set. de 2010

"Venha ver o pôr-do-sol"

Para Lygia Fagundes Telles


Meu amor, estou aqui, onde nós costumávamos passar as tardes, olhando para este lindo horizonte colorido de azul, verde, vermelho. Estou aqui sozinho, lembrando das tardes que nós passávamos juntos, jurando amor eterno, cantando eight days a week, I love you. Lembra?

Nós prometemos que nada atrapalharia nosso amor. Nada! Eu cumpri esta promessa, e você? Eu sei que agora vai dizer que a culpa foi minha, você sempre fez isso e aposto que não seria hoje que mudaria de ideia. Mesmo assim eu digo, você estava certa, meu amor era utópico. Eu sonhava viver de amor enquanto você estudava para passar no concurso e ter seu emprego garantido.



Eu gostaria de viver dos meus poemas de amor, e você vivia dizendo que isso era besteira, só funcionava na música do Zeca Baleiro. Eu acho interessante, pois quando eu lia para você, Eu amo você como a abelha ama o néctar / o beija-flor o mel / os pássaros o céu, você deliciava-se com a leitura, e então nos amávamos como loucos amantes amam um amor proibido.


Meu desejo em tê-la aqui, ao meu lado, não é o mesmo do conto da Lygia, você sabe disso. Gostaria que visse este lindo pôr-do-sol de hoje, com dia limpo, claro, lindo. Como aquele que nós vimos pela primeira vez, lembra? Foi a primeira vez que você quis fazer amor no carro. Eu sei que você não esqueceu aquele dia. Foi o dia em que eu apresentei aquela música do Otto, amo você, talvez não seja o certo, amo você demais.


Hoje eu lembro você cantando, vem ver a vida, sem você meu amor eu não sou ninguém. E então eu vejo como as músicas realmente são verdadeiras. Elas dizem o que nós não conseguimos dizer. E nós sentimos por elas.


O mesmo eu digo dos poemas, que você não gosta. Gostava de ouvir, lembra? Gravei um CD com mais de cem poemas de amor, e nós ouvíamos juntos, fazendo amor. Eu nunca me esqueci disso, e aposto que jamais esquecerei. Agora mesmo estou ouvindo, e o poema do Drummond, aquele que nós gozávamos juntos, o amor é grande e cabe / no breve espaço de beijar.


Parece que eu digo para você voltar, vir morar aqui ao meu lado. E não é. E também não é solidão. Quem sempre teve problema em estar só era você, que sempre buscou subterfúgios para não nos amarmos. Inventava desculpas para não viajarmos mais, lembra? Aquela nossa viagem a São João Del Rei foi inesquecível. Passamos uma semana inteira sem nada para fazer, além de compartilhar nosso amor, nossa vontade de estar juntos, nosso completo companheirismo um pelo outro. Uma semana normal, sem feriado ou data comemorativa.


Depois de passar três meses fora, estudando, você veio com a ideia de termos um amor livre, sem rótulo. Eu sabia que isso não daria certo. Como não deu. O ciúme que você sempre achou que eu não sinto, floresceu. Me fez ficar maluco, com vontade de brigar na rua ao vê-la com amigos, e até primos. Este é um sentimento nobre, como meu amigo Chico escreveu, ciúme é um sentimento para proclamar de peito aberto, no instante mesmo de sua origem. Porque ao nascer, deve ser logo oferecido a mulher como uma rosa.


Pois bem, é o que quer ouvir? Sim, ainda amo-a como louco, ainda sinto aquela vontade de sumir do mundo e me entregar aos seus braços, de chorar no seu colo, com a cabeça em seu peito, como uma criança desamparada. Não me envergonho de dizer isso. Eu tenho orgulho do amor que vivi, que senti, que jurei, que amei. E você, tem?


Lembra aquele dia em que eu escrevi um poema e você jurou que era para uma outra mulher? Agora eu assumo, era mesmo. Era para a mulher que eu achava que me amava, aquela que eu acreditava ter jurado amor eterno. Lembra dela? É ela que eu gostaria que estivesse aqui, agora, olhando o sol na mesma linha dos meus olhos. Um sol vermelho, um horizonte avermelhado, que eu nem sei qual a sua cor verdadeira, se é que existe uma palavra para o que estou vendo; se é que existe uma palavra para o que sinto, agora.


Hoje eu li este poema do Cruz e Souza, pouco antes da minha decisão, e aqui está, Tua presença delicada basta / Para tudo tornar claro e impoluto... / Na tua ausência, da Saudade escuto / O pranto que me prende e que me arrasta...


Os poemas que eu escrevi para você me parecem bons, e você jamais disse uma única palavra sobre eles. Isso me magoa muito. Fiquei muito tempo sem escrever poemas, e quando escrevi, pedi a opinião de uma amiga, e ela me disse isso, eu queria que fosse escrito pra mim, é lindo. Eu não tive coragem de dizer a ela que você nunca elogiou um poema meu.


Pois bem, o sol está sob as montanhas. A lua está cheia, sobre as montanhas. Sem você, com quem verei o próximo pôr-do-sol?


A quem direi, "venha ver o pôr-do-sol"?

25 comentários:

Vi e Ouvi Por Ai disse...

Nossa que triste!!!! as vezes depositamos amor e confiança demais em pessoas que não merecem e que não nos valorizam... mas de tudo se tira uma lição e com certeza essa foi uma delas...

Beijos!

Vivian

... disse...

Linda forma de reclamar um amor.
Sempre gostei desta forma direta que as pessoas verdadeiras têm
de dizer as coisas,
mesmo que estas, venham carregadas de um gosto amargo,
de um "algo ficou inacabado".

Venho sempre por aqui e gosto de ler o que escreve.

Quem sabe as coisas não se resolvem desta vez.
Não te esqueças que o sol sempre se põe,
e as oportunidades aparecem
não desista

Abraço

Valéria lima disse...

Nossa, não conhecia esse seu lado romântico. Adorei a força do texto, algo doce porém direto de direita!

BeijooO*

Luna Sanchez disse...

Tantos elementos presentes aqui, como saudades, mágoa, lamento, cobrança, desapontamento...ainda que não seja o relato de algo real, os sentimentos são verdadeiros e velhos conhecidos de qualquer pessoa que já tenha sentido ao menos um arrepio por outra.

Destaco a parte que cita as músicas, porque só quando se está triste se presta atenção de verdade às belas letras, se sente realmente o que elas querem dizer e daí, claro, decoramos e cantarolamos dia e noite.

Rs

O trecho que me fez pensar que não é real é o do CD com poemas narrados tocando na hora do sexo. Não consigo imaginar algo assim, muito menos alguém gozando tendo poemas ao fundo. Prefiro interpretar como figura de linguagem. ;)

Beijo.

ℓυηα

Unknown disse...

Luna, eu me surpreendo com você sempre. O CD é um sonho meu, e eu te falei isso já. Será que o gozar ali não pode ser no sentido de apreciar, e não o gozo sexual?

Valéria, sou um romântico incorrigivél. Tem que ver o tanto que eu gosto de poemas de amor...

... (Reticências), venha sempre. É bem-vinda aqui. Você achou mesmo que eu reclamei um amor? (olha, se você deixar mais uns 3 comentários eu descubro quem é você. Quer apostar?

Vivian, lembra daquela o Poetinha, "trizteza não tem fim, felicidade sim..."?


Lembrem-se, o cara por trás da Mina do Cara ama vocês!!! (desta vez é o cara...)

Unknown disse...

Luna, como você pode gozar ouvindo música, com letra e melodia, e não ao som de uma voz apenas?

Eu acho que rola isso sim, viu...

Luna Sanchez disse...

Sim, sim, por isso eu falei que interpretaria como uma figura de linguagem, embora tu tenha dito "Gravei um CD com mais de cem poemas de amor, e nós ouvíamos juntos, fazendo amor...Agora mesmo estou ouvindo, e o poema do Drummond, aquele que nós gozávamos juntos..."

Se interpretarmos o "gozávamos juntos" como "apreciávamos juntos", o "fazendo amor" também ganha outro aspecto, certo?

E, pra constar, gozar ouvindo música é diferente de ouvindo apenas alguém (uma terceira pessoa) falando...pelo menos pra mim é.

Em todo caso, o mais importante no texto, na minha opinião, foi o ritmo em que os sentimentos foram expostos.

Como já disse, eu gostei.

ℓυηα

Unknown disse...

Luna, to tentando falar com você...

El Bode disse...

caralho.
parabéns. emocionou, identificou. hehe

Cristina Maria disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cristina Maria disse...

Tem quem goste de dividir, separar os momentos de prazer em antes de depois do gozo, o amor não é um eterno gozar. a alegria de estar juntos, de pensar em alguém?
"Lembra aquele dia em que escrevi um poema e você jurou que era pra outra mulher?"
Isso é o amor de uma certa forma, sempre idealizando.
Ficou lindíssimo Márcio.

Manuela disse...

ME EMOCIONEI! LINDO, TRISTE, COMOVENTE!

Non je ne regrette rien: Ediney Santana disse...

verso em prosa tão sedutor que alegra o coração a tenta ser feliz novamente

2edoissao5 disse...

nossa!!!
que belo! e que inveja de alguem sentir isso por mim...
o meu poeta ja disse que me ama, ja escreveu duas musicas , mas esse post fala de tantas faces do querer, do amar, do sentir...uau!
com relação a polemica do ouvir e gozarmos juntos achei sensacional, cheguei até a visualizar a cena, foi uma das partes que mais gostei.
ah! começou com os beatles... rs
beijo!

Pólen Radioativo disse...

Lindo mesmo!!!

Pólen Radioativo disse...

Tristeza mais linda... Daquelas que, segundo Vinícius, daria um samba de primeira.
Fragmentos (ao longo do texto) em perfeita sintonia.

Lindo mesmo!!!
Beijos...

Anônimo disse...

Ola Lindo texto apesar de ser um pouco triste nem sempre depositamos o nosso amor na pessoa certa.
Um abraço
Santa Cruz

Valéria lima disse...

Então, pega o violão correndo, vamos juntos à praia dos Sonhos..rs

Bom final de semana.

Jussara Christina disse...

Adorei teu blog! Belíssimo!
Gosto de conhecer pessoas.
Já estou te seguindo ...
Se puder visita meu cantinho tb, que é feito com muito carinho.
Bjs doces!

*´¨)
¸.·´¸.·*´¨) ¸.·*¨)
(¸.·´ (¸.·` *♥* Jussara Christina *♥*

Vi e Ouvi Por Ai disse...

Olá menino!!! sim... me lembro daquele frase famosa e concordo plenamente... triste a felicidade ter fim, mas na vida nada é perfeito e nada é como gostaríamos que fosse... =(

Beijosss

Vivian

Patrícia Castro disse...

Pobres moços! Ela não sabe o amor que perdeu. Ou não perdeu, não sei.

Unknown disse...

Galera, esqueci de responder...

O que posso falar hoje, depois de alguns meses de publicada é que esta crônica rende fortes emoções no off.

A Mina do Cara!

Ana Cris Nunes disse...
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Ana Cris Nunes disse...
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Ana Cris Nunes disse...

Adoraria contemplar o pôr-do-dol ao seu lado.

Beijos

Cris Cajuína