25 de jul. de 2010

A jovem promessa

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Estava sem dinheiro algum, sem trabalho, apenas com o diploma na mão e a vontade de faturar um trocado para levar a gatinha para jantar no Japa – como está na moda aqui na cidade.
Tenho um grande amigo que me colocou num freela bom pra caramba, e que era pra ser fácil. Difícil é meu temperamento, isso eu assumo.
Era só fazer umas perguntinhas ao menino, mandar para o editor e ser publicada na revista. Depois eu pegaria a grana, levaria a gata ao restaurante e depois ao motel.
Ainda não recebi o pagamento, só uma resposta do editor, dizendo, “o menino merece respeito, é filho de gente importante.” Não sei se fechei as portas na revista. Vou transcrever a entrevista, sem os cortes do editor, e você me fala, ok?

MAIS UMA MESMA PROMESSA PARA O ENTRETENIMENTO

Jorginho é filho de atriz com cantor, e isso o levou a televisão cedo. Com apenas 3 anos aparecia como o bebê lindo da novela. Depois começou a “estudar” teatro e fez um bico nessa novela da tarde – onde está até hoje. Frequenta esses programas de auditório, o que faz manter sua cara conhecida, já que seus papéis quase nunca são apreciados pela crítica. Adora futebol, torce pela seleção durante a Copa, adora ir ao cinema e não se importa com o assédio das fãs.

Revista – Jorginho, você é conhecido por frequentar lugares badalados, com muita mulher bonita, gente solta, sem preconceitos, esse é o seu ambiente natural?

Jorginho – Pois é, eu fui criado no meio, né. Não tenho preconceitos, não carrego mágoas. Sou um cara do bem.

Revista – Esse meio é repleto pelas celebridades, você já teve algum problema com alguém? Alguma intriga, demonstração de inveja?

Jorginho – Sempre tem, né. Sabe como é esse meio artístico. Mas não quero falar disso, não quero dar voz a quem está esquecido. Vamos falar sobre alguma coisa séria. É praquela revistinha de adolescente essa entrevista, não é? Não quero falar porra nenhuma dessa merda. Depois você arruma isso aqui.

Revista – Pode deixar. Cansou dessa merda? Tem que estudar, trabalhar pesado, não é?

Jorginho – Não faz ideia de como isso aqui é. Vou fumar, mas não coloca na revista.

Revista – Certo. Então, quando foi que você quis entrar para a televisão?

Jorginho – Eu nunca quis. Eu entrei. Nasci aqui dentro. Ou sou filho da puta ou fico escondido, e se ficar escondido vou perder dinheiro. Aí é foda! Mas eu quero que se foda, vou ficar um tempo aqui e depois me esconder, sumir. Tô querendo fazer um curso de cinema e zarpar!

Revista – Posso fumar com você? Pois é cara, essa televisão é mesmo uma merda. Você não tem vontade de fazer uns trampos legais?, sair dessas novelinhas de merda?

Jorginho – Que isso, irmão? Aí você tá de sacanagem comigo!

Revista – Foi mal. Me expressei mal.

Jorginho – Tá vendo, vocês jornalistas são uns filhos da puta e quando a gente responde ainda falam que somos mal educados, esnobes, estrelas. Bando de filho da puta!

Revista – Nem todos. Toma seu cigarro de volta. Vamos fazer a entrevista, tá bem. A interpretação, pra você, é o quê?

Jorginho – É meu trabalho.

Revista – Só isso? As meninas vão querer ler que é a sua vida, seu desejo de viver.

Jorginho – É meu trabalho. Seu trabalho não esse?, fazer uma entrevista com astro-adolescente? Você trabalha pra mim, e não eu pra você. Escreve aí que interpretar é tudo pra mim, é a razão do meu viver, é a razão para eu comer tantas mulheres.

Revista – E como é o assédio?

Jorginho – Meu irmão, é sinistro! Como mulher todo dia, se eu quiser! São todas umas safadas! Todas! Cada uma que você não acredita. Sabe a Raquel?, que tá fazendo a menininha da novela das 7? Comi até o cu.

Revista – Que isso? Aquela gostosa? Puta merda! E você tem fama de viado!

Jorginho – Viado é seu cu, filho da puta! Como mais mulher num mês do que você na vida inteira da sua família toda.
Revista – Você tem cara de quem dá o brioco, rapá! Essa turma da televisão é toda errada, os homens dão e a mulheres comem! Tcho matar, deu vontade.

Jorginho – Ô camarada, fuma essa porra e fica de boa. Essa entrevista vai ser bobinha mesmo?

Revista – Vamos mudar de assunto então. O que acha do atual presidente da ABL.

Jorginho – Porra, aí você tá me zuando, né.

Revista – Você não quer falar de coisa séria?  Agora é sério, é verdade que você ia fazer uma ponta em Agosto?

Jorginho – Essa merda rende até hoje. Ia. Não fiz.

Revista – O que aconteceu, de verdade? Não quer aproveitar e limpar seu filme?

Jorginho – Tá me chamando de filme queimado? Tá louco?

Revista – Porra, até eu que não sei nada dessas fofocas sei disso. Meu irmão, só se fala nisso. Até hoje tem gente que fala que você não teve papel porque sua mãe não estava na minissérie. É verdade mesmo?

Jorginho – Claro que não! Deu outra merda, e falaram isso! Claro, todo mundo quer me foder! Todo mundo tem inveja de mim! Não foi a primeira nem a última vez que fizeram isso comigo!

Revista – Mas não tem mesmo o que você fazer nela.

Jorginho – Meu camarada, se você colocar nessa merda que eu fumo você tá fodido! Vão falar que incentivo essas menininhas safadas a fumar! Cara, essas meninas novinhas desse jeito já são safadas demais! Pena que isso não acontece com você, jornalistinha.

Revista – Não sou eu quem tem fama de viado. Também vou fumar com você, posso? Então me diz uma coisa, é verdade mesmo que sua mãe tem influência na sua carreira?

Jorginho – Porra, tu ta de sacanagem mesmo, não é mermão?! Ela trabalha nessa merda há anos, e eu entrei com 3 anos, acha que eu poderia ter entrado nessa sozinho?, acha que não pesa ser filho da minha mãe? Todo mundo queria ser eu. Eu!

Revista – Eu não.

Jorginho – Que você não!? Você sonhava em entrevistar um ator quando era pequeno? Sonhava escrever matérias sobre fofocas dos artistas da televisão? Você é um bosta de um jornalistinha de merda que vai chegar em casa e arrumar essa porra toda e colocar umas frases que eu não disse em destaque e encher linguiça babando meu ovo, é isso o que vai fazer. E eu vou comer uma mulher. Vou sair pra passear, parar em algum lugar com bastante gente, sentar no balcão, pedir uma cerveja, abrir, aí chega uma mulher e fala comigo qualquer coisa que eu respondo rindo, bebo um gole, faço um elogio ao seu cabelo, digo que é linda, e se quiser, dou um beijo. E você babando meu ovo pra revista.

Revista – Você não passa de mais um babaca que só está aí graças às amizades da mamãe e do papai. Faz esse papelzinho escroto tem anos e não desenvolve pra nada, só aqueles filminhos idiotas de fim de ano. Só isso, mais nada! Não passa de um babaca mesmo, um playboyzinho de merda! Um ano é vilão e no outro mocinho! Que gracinha, você é um bosta. Só não enfio a mãe na sua cara porque tenho pena de você, filho da puta! Gravou um CD com um puta produtor, cantou na televisão em programa de auditório, deu entrevista e tudo mais, só esqueceu de contar que era tudo playback, que os outros é que tocavam! Você não passa de um playboyzinho de merda! Agora coloca esse óculos e vamos tirar essa merda dessa foto. Faz pose de homem, viado!

7 comentários:

Anônimo disse...

Oi Mina do Cara. Grande entrevista. é mesmo conversa fiada gostei amigo.
um abraço
Santa Cruz

Luna Sanchez disse...

Se fechou as portas? Bem capaz, tá tudo ótimo! Senta aí e espera ser chamado para mais um free.

Rs

Beijo, beijo.

ℓυηα

Valéria lima disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Valéria lima disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Valéria lima disse...

A cada dia que passa, vejo crescer a futilidade nos jovens que aí estão. Não precisa ser rico nem famoso, são todos iguais.
Não que eu tenha perdido a minha porção idealista, mas para alguns jovens, há algum tempo ela se foi, levada com a dura realidade dos nossos racionais e corridos dias.
A inutilidade, a desinformação e a maldade cultivada pelos jovens ainda me assusta.
O que nos resta? Semear com mais afinco, regar as sementes e esperar?!

BeijooO

Mari disse...

Isso é uma fronta a minha inteligência. Quem é esse parasita social? Esse jorginho? Nessas horas agradeço por assistir apenas jornais e filmes na TV.
Show de entrevista, sem cortes Amei!

Unknown disse...

Santa Cruz, obrigado!
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Luna, será mesmo que fechei?
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Valéria, valeu!
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Mari, você ganha tempo em não ver umas e outras merdas na televisão...
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Sinto saudade dos comentários do meu nobre leitor... e de outros nobres leitores também, claro!
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Para todos: parece claro que é uma ficção, não? Este conto faz parte do meu projeto (que perdi outros15 mais ou menos) de escrever um livro de contos colocando a obra e o escritor Rubem Fonseca como plano de fundo.
Eu não criei uma categoria para isso no blog, então está em "conversa fiada".